quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

(Poema escrito a quatro mãos com Juliana Pires)

O fogo
Curtiu como
A carne sob
A forma de
Um acento.
Ha! Disse o
Som inscrito
Na rude fruta
Se morder a casca
Do meu flamejo
A pele inflama
E o ruído acentua
O pelo ousado
Que te flutua
Sem patas para
O sossego.
Dali em frente, o
Éden jamais foi o mesmo
Mas não por culpa da serpente -
Foi o fruto
Que desviou
A nossa vertente.
(Poema escrito a quatro mãos com Juliana Pires)

No tocante
O toque se esvai
Como a bruma
Macia das
Constelações
Se há gozo,
Consiste em alisar
Sem toque;
Que se contem
As consternações,
Porquanto nos toques
Há uma poesia
Que não se sabe,
Não se faz.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Voz

Voz...

Bromélia no desfiladeiro
Chamado Humano
Saltando vermelha e texturizada
À beira do rochedo,
Empurrada constantemente pelo vento
Soprado da terra,
Olhando as ondas a quebrar
Na gruta de onde nascem suas raízes,
Que vão fundo no corpo inclinado
Sobre as nuvens do mar;
Nuvens que adentram o subterrâneo cavernoso,
Correndo os rios freáticos
Até as águas e grãos se confundirem
E não se saber onde é oceano
E o que é pedra.
Apenas a bromélia na bruma.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Gutural agudo

Acode, São Pedro,
Tem misericórdia!
Se não toca uma mísera córdia
Nesse acordeão de chuvas
Chorando na toca do meu cordão,
O acorde não sai do peito
E acordo apedrejado
Pelas cordas da vida em tensão.

Acuda antes que o açude sacuda;
E bem que sacode se mais tensionar
Nas perdas de chuviscar sem um atol de mata
Que atine as lágrimas
E afine o violão.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Falso inocente

Mas é um vagabundo mesmo.
Inconsequente, fazendo-se inocente...
Não sabe o que é sofrer,
Não pensa em trabalhar,
Um bon vivant tranquilo
Que não foi desmamado,
Reclama de barriga cheia
E ainda quer ser entendido.
Pensa ser inteligente, sábio,
Só porque fala bonito.
Não teve a vida dura e cruel que eu vivi.
Não sabe o que é aperto,
Nem lutar para alcançar algo que chamar de "seu".
Imaturo, mimado e auto-piedoso, o que é pior.
Jamais será adulto,
Jamais será entendido,
Jamais será humano como eu.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Tornar-me outro, por qualquer razão, é

Como mudar a terra.
Como encher um naufrágio.
Como fechar um caminhão.
Como flechar a maçã sem acertar o pomo de Adão.

Como
Como se não fosse corpo.
Comodoro da minha sagração dentre os homens
Sobre as pedras da desolação.
Cômodo aos que são mais do que carne
E impulso de devorar;
Aos que, vendo na direção o afogar dos rochedos chegando certeiro,
Desviam à contramão.