quinta-feira, 30 de abril de 2015

Piramidal

Praga crassa
Prateando a laringe
Até dura não gritar
Melhor pra capitalizar;
Até que esfinge as gentes petrifiquem
Em louvor dos faraós, e só.
Espanque o corpo e rompa a mente
Delinquente o negro, a mulher, a bicha, o índio
Mate o pobre, culpe o jovem
Chame Dom Sebastião
Rasgue a constituição do humano
E quem sabe sejas Brasil o suficiente pro Diabo amassar.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Folhas derretidas

Acordou um dia,
Saiu na rua
E amou.
Repentinamente era outro
Virou Ramsés, filho dos deuses,
Príncipe de seu próprio destino.
Resolveu que o amor é uma árvore tropical
Verde e bodosa.

Algum tempo depois
Voltou para casa
E brigou.
Ainda era cometa deslizando nos céus,
Mas viu a sazonalidade das zonas temperadas
Esvaecer suas folhas amareladas por alguns instantes.
Esperou chegar a primavera.

Ontem adormeceu
E esmigalhado na entorpecência
Se sentiu cacto.
Morreram aí as metáforas arbóreas.
Não porque morreu o amor, nada disso.
Apenas se redescobriu humano.
Despencou como Lúcifer na Terra
E passou a procurar uma forma de ser água
Ao invés de retê-la.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

E só

Nova noir
Pastiche de outrora
De mim
Fora com o pastel e seus tons
In with the dons
Os bons envelhecidos
Traduzidos
Semi-paginados
Vêm também os males
Uns resquícios de rolha quando a rompi
Nada que uma colheita
De dedos esfumegados não possa resolver.

__________


Abri minhas asas de corvo
E planei sobre o trigal.
Os grasnos não assustam
Os grãos... Sei lá.
Sustém. E por enquanto só.
Lá longe há oliveiras -
Que será?

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Na mala, enquanto se aproxima o trem,
Javalis, cerejeiras, abacates, um navio vermelho
E muitos erros.
Mas com eles quem se importa?
Levo para exportar no próximo terminal. E por enquanto só.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Equilíbrio

Em caça por nova casca
Ceder a casa
E casar comigo;
Quem sabe encaixa.
Mas caçar diferente
Sem cair de cócoras numa caixa
Querida pela casta rasa
Das querelas amareladas,
Das amadas fadadas,
Das que foram caladas,
Engolida a facadas.
Como me dar a esse prazer
Sem perguntar?
Procurar respostas
Que não sejam intervenções
Nem respostas.
Simplificar a mente
Sem autodestruir
Renovar a estima sem redimir
Não sumir mas decrescer
Caçar sem cães nem raposa
Sem virar esposa.

sábado, 4 de abril de 2015

Bichérrima

Em mim sou um bando de bichas
Cardume de piranhas
Nervosa
Infinitamente ramificada
Até as raízes caírem numa poça de homofobia
E rasgarem tudo lá dentro
Sugarem-na
Roçarem as pelancas no erro
Plantarem perucas na raiva
E fumarem minha morte
Até os pulmões ficarem pretos
De tantas travestis colhidas
E viados tolhidas
De tantas sapatões arrancadas do chão
E passadas ao ponto
Que bem lhe quiser.
Engula.
Isso.
Tudo.